RIO — Entre as 30 mulheres que tiveram barradas na última semana suas candidaturas à Presidência do Irã, estava a valente Zahra, uma poeta e professora de 52 anos, moradora de Teerã. Diante da notícia de que não poderia concorrer, ela decidiu enfrentar o órgão responsável pelo veto, o Conselho dos Guardiães. E de dedo em riste.

– Onde estão suas credenciais? Sua autoridade? Vocês não têm autoridade para decidir nada. A era de um homem e uma verdade acabaram no Irã. Há toda uma nova geração disposta a transformar o Irã numa sociedade justa, igualitária e democrática – disse ela aos 12 clérigos ultraconservadores do conselho. Essa história, claro, é falsa. Mas se as mulheres estão impedidas de concorrer na realidade, no mundo da literatura em quadrinhos elas tudo podem. E a cena e a resposta desafiadoras de uma simples mulher iraniana confrontando um grupo de velhos clérigos sisudos foi imaginada por Amir Soltani, um dos criadores da heroína fictícia dos quadrinhos “O Paraíso de Zahra”, lançado no Brasil no ano passado pela editora LeYa. Ele e o colega Khalil Bendib decidiram lançar a personagem como candidata virtual à Presidência. Com plataforma, site, página no Facebook, Twitter e todo o aparato de campanha – mesmo que, na realidade, apenas oito candidatos, todos homens, disputem o pleito de 14 de junho no Irã. – Claro que a campanha de Zahra vai continuar! Acreditamos na força da mulher e de um Irã melhor. Decidimos lançar Zahra candidata porque não há candidatas do sexo feminino na disputa e porque não há candidatos preocupados com a questão dos direitos humanos – contou Soltani ao GLOBO, por telefone, dos EUA, onde vive exilado. Para o criador, Zahra é o retrato da classe média iraniana. Mulher e viúva, neta do fictício grande aiatolá Alavi, é poeta e professora. Bem educada, mas empobrecida. E sofrida. Na ficção, a personagem teve um dos filhos, Mehdi, morto por milicianos do regime em 2009, nos protestos de rua que se seguiram à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Ela faz uma peregrinação em busca de pistas que leve ao paradeiro do filho desaparecido – mas só encontra o descaso das autoridades. – A Zahra representa todas as famílias enlutadas do Irã e a esperança de mudanças. Ela concorre em nome do filho Mehdi para que as futuras gerações possam ter os direitos e as liberdades que ele não teve – explicou Soltani. Com o apoio de organizações não governamentais, os cartunistas pretendem criar na internet um espaço para promover e debater novas visões para o futuro de seu país. Em seu site vote4zahra.org, a candidata virtual defende o fim da pena de morte, a libertação dos presos políticos e a igualdade entre sexos. Até sexta-feira, mais de 2.600 pessoas haviam curtido a página da heroína no Facebook. Seus seguidores no Twitter ainda são pouco mais de mil. Para Soltani, é só o começo. – O regime não pode prender ou matar Zahra! Nossa campanha é uma afronta virtual. Precisamos aproveitar para mostrar ao mundo que a eleição não pode ser um teatro, onde o aiatolá Ali Khamenei decide – disse o cartunista. Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/no-ira-candidata-virtual-que-enfrenta-aiatolas-8494928#ixzz2mRqwJ4v4 © 1996 – 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. Click here to read the original article.