Por meio de imagens, Khalil conta a história de iranianos que lutam contra o regime e, dessa maneira, transmite ao mundo o que acontece no Irã. Em entrevista à DW, o desenhista fala sobre sua motivação e seu trabalho.
Eu acho que tem a ver com o fato de nessa área, tanto no presente, quanto nos últimos anos e décadas, terem acontecido transformações de importância internacional. Por um lado, o colonialismo ainda está presente nessa região – por exemplo, Israel e Palestina. Além disso, as reservas de petróleo fazem com que o local tenha grande importância geopolítica e geoestratégica. Há dois anos, a região vive revoluções como eu nunca tinha visto antes. O movimento iniciado na Tunísia se espalhou não só pelos países vizinhos. No mundo inteiro, pessoas acompanham os fatos. Está acontecendo muita coisa na região, por isso acho que os autores das graphic novels trabalham tanto com o tema. Para o projeto da DW, você está assinando somente com seu nome, Khalil, por questões de segurança, como você e Amir já haviam feito há dois anos ao publicar Zahra’s Paradise. Por que o anonimato? O que você teme? Eu não sou iraniano, embora eu me sinta muito próximo ao país e à sua população e aqui – onde eu vivo – sou de certo modo um integrante de honra na comunidade iraniana. Porém, o Amir é do Irã e ele foi ameaçado diretamente. Ele tem família no Irã e temia que nosso projeto tivesse consequências para seus familiares. E também para ele, quando ele voltasse para o país. Por isso, decidimos permanecer no anonimato. Assim podemos nos expressar livremente, sem ter medo de ataques físicos ou de outras consequências contra nossas famílias. Foi uma decisão fundamental que do nosso ponto de vista fez sentido. Nossos leitores respeitam a decisão de não publicarmos com nossos nomes completos. O que aconteceu depois da publicação de Zahra’s Paradise? Houve tentativas do governo iraniano para descobrir a identidade dos autores? Vocês foram ameaçados? Zahra’s Paradise foi publicado inicialmente na internet. Nós não fomos ameaçados, mas recebemos mensagens ofensivas que, acreditamos, tenham partido do governo. Nosso trabalho foi desacreditado como antimuçulmano, anti-iraniano e antixiita. Muitas pessoas no Irã estavam lendo o livro, então houve tentativas de desacreditá-lo. Há alguns meses, lemos no New York Times que nosso livro é vendido quase que somente no mercado negro, como acontece com muitas publicações proibidas. Nós ficamos bem felizes, pois uma parte da motivação para escrever o livro era não somente acordar o mundo para a situação no Irã, mas também mostrar ao povo iraniano que existem pessoas no mundo inteiro que se solidarizam com ele, que participam do seu destino e os iranianos não estão sozinhos. Como o Zahra’s Paradise foi recebido pelo público? Qual reação você guarda de lembrança? Nós recebemos muitos feedbacks positivos e instigantes, vindos de 151 países. Isso nos motivou muito. O que me impressionou bastante foi que em vários países pessoas se ofereceram para traduzir voluntariamente o livro para seus idiomas – por exemplo, na República Tcheca, na Polônia e na Armênia. No mundo inteiro, havia pessoas dispostas a traduzir 172 páginas. Isso é bastante trabalho. O entusiasmo das pessoas tinha um sentido, pois esse era um aspecto do livro. Ele não deveria ser somente uma história do Irã. Era uma história de uma mãe que perdeu o filho. Essa história comove pessoas do mundo todo. Todos podem se identificar com ela. Todas as pessoas compreendem a busca de uma mãe pelo filho. O que mexeu comigo e com o Amir, durante as viagens após a publicação do livro, foi que os leitores entenderam os outros temas do livro – a tortura, a repressão política e o desaparecimento de pessoas. Com o destino de mãe e filho, eles entenderam o aspecto político do livro e assim se identificaram com ele. To read the original article, click here.